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Archive for maio \30\+00:00 2010

Supercalifragilisticexpialidocious

Me chamem de sem infância, mas não tenho grandes recordações de “Mary Poppins” da época em que era criança. De fato, me lembrava do filme como um borrão, e foi como se estivesse vendo pela primeira vez quando peguei o DVD dia desses. Este é tido como um dos maiores triunfos da carreira de Walt Disney, e muito importante para o estúdio por muitos motivos. Primeiro por ter conseguido 13 indicações ao Oscar, das quais levou cinco (Montagem, Efeitos Especiais, Canção, Trilha Sonora e Atriz para a então estreante Julie Andrews). Foi a maior marca de vitórias de um filme Disney numa única edição do Prêmio da Academia.

Andrews também fez história por ser uma das poucas premiadas pelo primeiro filme, e a única a vencer por um longa-metragem infantil. Antes disso já era uma estrela dos palcos, tendo originado o papel de Eliza Doolittle em “My Fair Lady” (foi passada para trás na adaptação cinematográfica em favor de Audrey Hepburn, que não sabia cantar e teve de ser dublada – o que acabou sendo para melhor, já que Julie ficou disponível para estrelar este aqui). “Mary Poppins” também foi um sucesso absoluto de bilheteria, e a renda arrecadada bancou a construção de uma nova divisão dos estúdios Disney. Foi baseado num livro popular nos Estados Unidos, e originou ainda um musical na Broadway, além de ter sido muito parodiado e copiado.

E é realmente uma obra-prima, tanto como filme infantil quanto como musical. Para as crianças, é um conto mágico e inesquecível sobre a fase mais pueril e inocente das nossas vidas, e o momento em que começamos a assimilar e a contestar as regras do mundo adulto. Walt Disney compreendia essa sensação como ninguém – e dá pra sentir a mão dele no projeto, desde a meticulosa produção até a famosa sequência que mescla os atores com animação tradicional. Para os fãs de musicais, também é um clássico absoluto. Não só porque trilha é excelente (embora pareça sobrecarregada de canções aqui e ali), mas porque a execução é impecável. Há uma sequência de dança nos telhados que deve ser uma das mais energéticas, empolgantes e bem coreografadas que eu já vi.

Na trama, a babá mágica Mary Poppins vai usar seus truques para aproximar um pai frio e distante de seus dois filhos pequenos. Mas a personagem, apesar de se definir como a perfeição em pessoa, não é plana ou efusiva. Na verdade é bastante seca, pulso firme, cheia de si. Características que Andrews sabe transmitir muito bem. No entanto, ela perde a cena quando tem de dividí-la com Dick Van Dyke, espetacular como o artista de rua Bert, narrador da história e companheiro de aventuras de Mary e as crianças. Para ser descoberto ou relembrado.

.:. Mary Poppins (Idem, 1964, dirigido por Robert Stevenson). Cotação: A+

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Louis ficou dodói

Acordei indisposto nessa Sexta-feira e fiquei de cama até parte deste Sábado. Não tive condições de organizar um post bonitinho, mas para o dia não passar em branco, vou deixar um registro informal do que tenho feito.

Com a saúde frágil, não pude ir ao cinema ver “O Escritor Fantasma”, novo filme do Polanski que está estreando agora, ou mesmo “Sex and the City 2”, que eu só veria para cumprir tabela, já que nunca fui grande fã da série e o filme anterior foi bem fraquinho. A outra estreia da semana, “Pânico na Neve”, foi bem recebido em Sundance e parece interessante. Achei um link pra baixar, porque não está sendo exibido em nenhum cinema próximo, mas eis que o arquivo veio dublado em húngaro! Ai.

Nesses dias preso em casa, fiquei zapeando pela NET. Eu nem costumo assistir TV. De fato, faz tanto tempo que não vejo TeleCine que ainda estou acostumado a chamar o TC Light de TC Emotion. Enfim, descobri que amanhã, Domingo, às 22h, vai passar “Amantes” (“Two Lovers”) no TC Premium. Que dó de você que nunca assistiu. Foi um dos melhores que eu vi ano passado, e claro que vou aproveitar pra rever. Joaquin Phoenix é um ator extraordinário. Pena que anda meio piradinho… Vi também os dois primeiros episódios de “The Wire”, uma das melhores séries que eu já assisti. Só acompanhei as últimas temporadas e decidi que vou tirar o atraso durante esse hiato das séries atuais.

Fiquei sabendo da morte precoce do Gary Coleman, astro mirim que teve uma vida de merda depois que sua sitcom foi cancelada (ele também virou personagem do musical “Avenue Q”, onde era zelador da vila). E hoje morreu Dennis Hopper, vítima de um câncer de próstata. Triste.

Agora eu preciso nenas melhorar até amanhã pra presenciar a chuva de Twix na Paulista.

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Cenas da vida

Porque é bom demais pra não dividir.

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Finais de temporada

Em final de Maio, a esmagadora maioria das séries americanas (basicamente todas as originárias dos canais abertos) encerram suas temporadas, para retornar com episódios inéditos apenas em Setembro. Durante esse hiato, o calendário dos viciados em séries fica quase vazio, ocupado somente por alguns programas dos canais pagos. Alguns como eu aproveitam para colocar em dia temporadas atrasadas de séries que sempre quiseram ver. No meu caso, dedicarei meu tempo a terminar “Angel” e “Dead Like Me”, ambas canceladas. E estou aberto a novas sugestões. Até lá, vou fazer um apanhado da temporada 2009/2010 que está chegando ao fim.

Foi nesse ano que aprendi a amar “Supernatural”, um guilty pleasure do CW e provavelmente a série mais viciante do momento. Os protagonistas Jensen Ackles e Jared Padalecki tem uma dessas químicas inexplicáveis, de fazer inveja. E empregam muito bem essa afinidade ao relatar a saga dos irmãos Winchester, que perambulam pelos quatro cantos dos Estados Unidos num Impala maneiríssimo, caçando espíritos e demônios ao som de bandas de rock progressivo. Cool.

Community é a Melhor Comédia

Entrementes, “30 Rock” e “Family Guy” sofreram quedas vertiginosas no nível dos roteiros e perderam o posto entre as melhores comédias da TV, dianteira que foi tomada por duas estreias, “Community” e “Modern Family”. A primeira, que eu descobri com certo atraso e devorei todos os episódios em sequência, é levemente superior à segunda. Os momentos mais sensíveis, por exemplo, fluem mais naturalmente, já que em “Modern Family” eles precisam dar uma encafonada colocando uma narração ao final de cada episódio para evidenciar que os personagens realmente se importam uns com os outros. Em “Community”, o companheirismo entre o grupo de estudantes de uma faculdade comunitária é muito bem firmado, apesar de cada um ter seus conceitos e preconceitos e do roteiro conseguir realçar isso de maneira muito engraçada e nada ofensiva.

“Glee” ainda está há dois episódios de encerrar sua primeira temporada, mas permanece como uma das séries mais irresistíveis no ar. Tem problemas de continuidade e um enredo sem muita coesão, mas empolga com os excelentes números musicais, os momentos mais tocantes e intimistas, e os coadjuvantes bem realçados (a Sue de Jane Lynch dispensa comentários, e a cheerleader Brittany também anda roubando as atenções). Quem gosta dessa aqui também pode curtir “Greek”, um drama despretensioso e bem humorado da ABC Family.

“United States of Tara” apresentou uma evolução fantástica em relação à sua primeira temporada, que já tinha sido boa. Agora está mais lapidada em suas tramas paralelas e mais focada no trauma que causou a doença da protagonista. Toni Collette continua brilhando. Aplausos também para Rosemarie DeWitt, que está fazendo por merecer o título de melhor coadjuvante da TV no papel da irmã Charmaine.

Dentre as sitcoms tradicionais, “How I Met Your Mother” e “The Big Bang Theory” se mantém minhas favoritas. A primeira teve um centésimo episódio legendário, cujo clímax foi um número musical liderado por Neil Patrick Harris. A segunda, apesar de concentrar todas as suas piadas em características primárias dos personagens, se sustenta pela presença de Jim Parsons, hilário como o cientista Sheldon. “The New Adventures of Old Christine”, que eu acompanhei por cinco temporadas, está chegando ao fim, mas reconheço que não fará falta. Julia Louis Dreyfus faz uma protagonista engraçada, mas não compensa a preguiça do roteiro.

“The Good Wife” foi a melhor estreia dramática, também com a melhor atriz da categoria, Julianna Margulies. Finalmente Glenn Close, que se despediu de Patty Hewes com o ótimo encerramento de “Damages”, encontrou uma adversária à altura nas premiações (curiosamente, também uma personagem do cenário jurídico). “Damages”, aliás, conservou o posto de melhor elenco da TV, favorecido ainda pelas adições de Campbell Scott e Martin Short. Igualmente talentoso é o time de “Friday Night Lights”, série teen muito verdadeira que não falhou em arrebatar na quarta temporada, mesmo tendo dispensado quase todo o elenco original. Por outro lado, “House” teve um início de temporada incrível, no qual Hugh Laurie deu show. Mas em linhas gerais, caiu na mesmice em quase todos os episódios seguintes.

Tivemos o episódio final de “Lost” dividindo opiniões, depois de uma sexta temporada cheia de irregularidades (estou entre os que gostou do desfecho, como você leu no meu post especial). Também chegaram ao fim “Nip/Tuck”, que estava longe de ser o que fora nas temporadas iniciais, e “Ugly Betty”, que conseguiu recuperar neste quarto ano um pouco do pique do início. Apesar de ter durado pouco, “Dollhouse”, criada pelo ídolo Joss Whedon (de “Buffy – A Caça-Vampiros”), teve um final decente, considerando o tanto de informação que tiveram de comprimir para explicar tudo em tempo.

Algumas séries acabaram só para mim. Larguei “Breaking Bad” porque apesar da excelência da produção – e do grande Bryan Cranston desempenhando o papel principal – estava me cansando da trama como um todo. Também não insisti em “Caprica”, spin-off da saudosa “Battlestar Galactica”. O Piloto foi promissor, mas o episódio seguinte já escancarou a falta de substância do plot e dos personagens. Dei mais um adeus à “Gossip Girl”, que ficou intragável e repetitiva nesse terceiro ano, e à chatice de “Brothers & Sisters”. Larguei ainda “Grey’s Anatomy” no início de Janeiro, mas assisti o final da temporada por recomendação dos fãs e, surpresa, foi primoroso! Logo botei em dia os capítulos que perdi – alguns fazem jus à canastrice que me fez desistir da série, e outros conseguiram me envolver e me tocar. As cotações completas você confere na página Séries 2010.

O que ficou faltando mencionar?

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A Bridget Jones do Brasil

“Não era pra ser”. É assim que Fernanda, uma solteirona na faixa dos trinta e cinco anos, encara uma decepção amorosa atrás da outra. Com essa frase-padrão, a protagonista de “Os Homens São de Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou” lida com os términos de relacionamentos que só existem na cabeça dela. Afinal, os homens com que ela se envolve tendem a vê-la mais como um caso de uma noite só, já que por mais que Fernanda se esforce, não consegue evitar a transa logo no primeiro encontro.

De certa forma, a personagem criada por Mônica Martelli, autora do texto e intérprete do monólogo, se assemelha muito à heroína contemporânea Bridget Jones, que fez sucesso no romance em forma de diário escrito por Helen Fielding, e mais adiante numa adaptação do livro para os cinemas. Ambas tem problemas com a aparência – Fernanda se acha alta e desengonçada, e Bridget vive em guerra com a balança -; ambas tem familiares que vivem tentando lhes arranjar um partido – Fernanda é empurrada pelas tias, e Bridget pela mãe -; e ambas descontam suas frustrações em doses exageradas de tabaco. Só se diferem na ambientação. Enquanto Bridget tem hábitos e comportamentos indissoluvelmente britânicos, Fernanda é uma brasileira autêntica. E as mulheres desse país afora devem se identificar com cada aspecto do texto, repleto de piadas inspiradas e bem distribuídas.

Nem mesmo onde poderia soar machista a peça ofende – afinal, por mais empenhada que Fernanda esteja em encontrar um homem para dividir a vida, ela se recusa a renunciar partes de si própria em função desse parceiro. Prefere encarar com inabalável bom humor mais uma frustração do que continuar segurando uma alça de caixão. É, enfim, um relato autêntico e fácil de relacionar com as experiências do público – o que explica porque o monólogo está em cartaz desde 2005, tendo viajado para uma porção de lugares e acumulado mais de 1 milhão de espectadores. Bastante agradável e nunca cansativa, a peça erra apenas nas mudanças de ato, quando precisa enrolar com a trilha sonora e a iluminação baixa enquanto a atriz troca o figurino. Nada, porém, que torne o programa menos desfrutável.

.:. Os Homens São de Marte… E É Pra Lá Que Eu Vou. Direção: Victor Garcia Peralta. Texto e Interpretação: Mônica Martelli. 14 anos. Teatro Shopping Frei Caneca, Rua Frei Caneca, 569. Sexta e sábado às 21h30; domingo às 18h00. R$ 60,00 (sexta e domingo) e R$ 70,00 (sábado).Até 27/06/2010. Cotação: A-

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Lost, o final

* O texto a seguir tenta se esquivar de SPOILERS, mas pode ser expositivo para um bom entendedor *

Terminou ontem nos Estados Unidos a série que se manteve pelos últimos seis anos como a mais cultuada do planeta. Refiro-me, é claro, à “Lost”, uma mistura de ficção científica com drama de personagem que deu uma nova definição à obsessão que os fãs podem nutrir por um programa de TV. No Brasil, “Lost” estimulou e popularizou os downloads de episódios, tornou-se o grande trunfo do canal pago AXN (que, aliás, transmite o capítulo final nesta Terça, apenas dois dias após a exibição original), e ganhou mais seguidores do que qualquer outro seriado em território nacional após ter sido comprado pela Rede Globo. O efeito foi similar em toda parte: é comum encontrar “Lost” liderando a lista das séries mais assistidas do mundo, ainda que sua audiência na ABC, emissora em que vai ao ar, não seja um estouro. O canal, porém, lucra muito com a venda para os outros países, além de DVD’s e produtos derivados. Sem mencionar que o episódio final, composto por duas partes, foi um dos grandes eventos do ano na televisão americana – e os anunciantes tiveram de desembolsar uma quantia farta por um espaço nos blocos comerciais.

Quando teve início nos remotos 2004, “Lost” passava por uma aventura divertida sobre os sobreviventes de um desastre de avião. Isolados numa ilha deserta, um grupo de personagens sem muito em comum iria se conhecendo melhor, e descobrindo aos poucos que as conexões entre eles datavam de muito antes do acidente. Enquanto seguia uma fórmula fixa – o foco em um personagem por vez, com flashs do passado que explicavam como ele chegou ali e se tornou a pessoa que é –, o roteiro desenvolvia um suspense consistente envolvendo a própria ilha em que os protagonistas se encontravam. Um lugar idílico, sem dúvidas, mas repleto de mistérios. Em pouco tempo, “Lost” foi ganhando ares de mitologia, virando mote de paródias e imitações e se tornando assunto obrigatório de conversa. Firmou-se também como uma série de notável padrão de qualidade, com elenco carismático e bem entrosado, autênticas locações havaianas e excelente trilha musical. O nome de J.J. Abrams – criador de “Felicity” e “Alias” – à frente dos créditos também colaborou para o prestígio. E depois que Abrams resolveu dar prioridade ao cinema (foi o diretor de “Missão Impossível 3” e “Star Trek”), os roteiristas Damon Lindelof e Carlton Cuse passaram a ditar os rumos da trama.

A sexta temporada estreou subvertendo a estrutura narrativa. Dessa vez, a realidade na ilha não seria alternada com saltos no tempo para o futuro ou o passado, e sim com uma realidade paralela, na qual a queda do avião nunca aconteceu e os personagens seguiram seus caminhos normalmente. Mas esses caminhos estão levemente alterados, já que representam a vida de cada um sem a influência de Jacob, o guardião da ilha apresentado no final da quinta temporada. As decisões diferentes transformaram cada um deles em pessoas diferentes – mas as conexões não param de surgir, com um esbarrando no outro e descobrindo, por meios distintos, a afinidade e a familiaridade de que não se recordam. Os fãs que persistiram até então (muitos espectadores foram se irritando ao longo dos anos com o acúmulo de perguntas não-respondidas) tiveram que dispor de um pouco mais de paciência. Não só porque os mistérios pareciam longe de uma solução, mas também porque esse novo esquema narrativo não dizia a que veio. De fato, só nesse último episódio a realidade paralela ganhou um propósito, explicado de maneira convincente e comovente.

Tomando a trajetória dos personagens como referência, pode-se dizer que “Lost” foi encerrado com glórias. No último episódio, todos os personagens originais tiveram um momento só seu, quando cenas das temporadas passadas ecoaram com admirável simetria nos acontecimentos da realidade paralela. Já os fãs que dão prioridade aos mistérios podem se frustrar com o desfecho. O essencial foi explicado, mesmo que de uma maneira não muito satisfatória. Foi o caso do episódio dedicado ao Jacob e a seu antagonista – o capítulo em questão foi vilipendiado por boa parte do público, que não aceitava que a série apelasse para a fantasia ao responder suas perguntas mais elementares. Contudo, dentro da realidade de linguagem da série, as soluções são aceitáveis. Fica óbvio também que os roteiristas sempre imaginaram esse escopo alegórico como a base de tudo o que acontece em “Lost”. O problema é que as pontas que ficaram soltas, apesar de não importarem muito no quadro geral, escancaram que muitas das brechas de “Lost” – que, diga-se de passagem, deixaram muitos fanáticos quebrando a cabeça e formulando teorias – foram inseridas sem um propósito. Estavam ali só para gerar mais história enquanto os roteiristas não sabiam muito bem para onde conduzi-la.

Ou seja, a recepção do final de “Lost” vai depender muito de como cada espectador sempre encarou a série. Se você está mais interessado em respostas fartas e sensatas para os mistérios que se estenderam por esses seis anos, certamente vai ficar a ver navios. Mas se, acima de tudo, você se importa com o destino dos personagens, com como as escolhas e as ações de cada um afeta os demais, e com as mudanças profundas que eles sofreram desde que os conhecemos até esse ponto, então há de abandonar o criticismo e se emocionar. Ou quem sabe ainda, depois de deixar o final assentar, pegar todas as temporadas em DVD e rever numa maratona particular, captando os detalhes que deixou passar ou de que se esqueceu. Com personagens tão ricos e matizados, estará em boa companhia.

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True Blood, o trailer

Sei que já tem um tempinho que esse vídeo está rodando a internet, mas só agora que eu vi e claro que tinha que postar aqui. É o trailer oficial da terceira temporada de True Blood, o grande trunfo da grade atual da HBO. A série retorna na TV americana e num site de downloads próximo a você em 13 de Junho.

Fangtastic!

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Outro sensacional final de temporada de Grey’s Anatomy

* Contém SPOILERS *

Quando os roteiristas de “Grey’s Anatomy” andam preguiçosos e assentados na canastrice, a série é ruim de doer. Mas quando eles se empenham em fazer um episódio bom, pouca coisa na TV é melhor. Essa é a minha percepção da série desde que os tropegos começaram a aparecer na quarta temporada – e em certo ponto da sexta, me convenci de que eles não conseguiriam emergir do fundo do poço em que tinham se enfiado. Para conseguir preservar as boas lembranças, abandonei a série sem planos de retomar. Fiquei de mal da criadora Shonda Rhimes.

Mas eis que o dia da exibição do final de temporada foi se aproximando, os vídeos promocionais foram sendo liberados anunciando um puta episódio sensacionalista, e meu coraçãozinho começou a bater mais forte. Eis que os episódios duplos – o vigésimo terceiro e o vigésimo quarto foram transmitidos em sequência nos Estados Unidos na noite dessa Quinta-feira (20) – causaram reações extremas nos fãs. No Twitter, a série e os personagens entraram nos Trending Topics, o medidor dos assuntos mais discutidos no mundo. No meu MSN e e-mail particular, colegas da comunidade da série no Orkut vinham me dizer que o episódio fora espetacular, que eu precisava assistir, que eu ia me matar de chorar e por aí vai. É claro que eu não me contive e baixei em seguida.

E foi incrível, gente. Incrível. Eu falo que quando eles querem arrasar, não tem pra mais ninguém. Quando “Grey’s” é bom – ou seja, quando a vida amorosa dos médicos se entrelaça lindamente, casando ainda com o paciente-metáfora do dia e com as musiquinhas selecionadas para tocar ao fundo – só o que podemos fazer é nos acomodar no sofá e suspirar fundo. Ou, no caso de um episódio eletrizante como este (só comparável ao famoso capítulo da bomba da segunda temporada), sentar na pontinha do sofá, roendo as unhas, gritando a cada reviravolta. Estava por fora dos rumos da série, mas mesmo assim consegui acompanhar tudo direitinho, e seguir as mudanças que tinham acontecido desde que parei de ver. As mais relevantes: Derek assumiu a Chefia do hospital, Meredith descobriu que está grávida, Owen está cada vez mais dividido entre Cristina e Teddy, Alex e Lexie formam um casal, e Callie e Arizona se separaram. Do pessoal que entrou depois sei muito pouco, e nem faço tanta questão de saber.

A trama do season finale gerou em torno de um atirador (shooter), que invadiu o hospital metendo bala em tudo que é cirurgião que encontrasse pela frente. Ele queria se vingar pela morte da esposa, que considera ser de total responsabilidade dos médicos – mais especificamente, dos envolvidos no caso da mulher, ou seja, Derek, Lexie e o antigo Chief (que pediu licença pra se tratar do alcoolismo). Imagino que esse caso tenha sido apresentado num dos episódios que perdi (e que penso seriamente em colocar em dia, depois deste combo de episódios primoroso). Quem assiste “Grey’s Anatomy” sabe que a série nunca fez finales ruins. Este não foi exceção. Tudo bem que foi bem exagerado o cara transitar livremente pelo hospital, e que a SWAT de plantão lá na frente era a mais incompetente do mundo (jamais transcorreriam tantas horas sem que um plano de ação fosse traçado e bem executado, isso se conseguíssemos acreditar que com tanto esquema de segurança alguém entraria armado num hospital pra começo de conversa).

Outro problema pra mim foi o foco da ação. Para atestar o tom frenético, ficaram alternando a ênfase entre os personagens, e não conseguiram delinear muito bem o ritmo das coisas. Quanto tempo Alex ficou ensanguentado dentro do elevador, por exemplo, antes de ser encontrado por Lexie e Sloan? Como assim as alas do hospital ficaram sem qualquer tipo de comunicação umas com as outras? Como os médicos conseguiam contactar a polícia lá fora, mas não trocavam informações entre si (do tipo: “Oi, a coisa tá feia aqui em cima, fulano tá pondo as tripas pra fora, dá um pulinho aqui”)? Mas vamos abstrair esses furos, afinal isso é ficção, e não documentário. O fato é que eu fiquei envolvido, preso do começo ao fim, temendo (e tremendo) pelo destino dos personagens que um dia aprendi a amar. O elenco esteve simplesmente fantástico, desde o original até os novatos com quem vou morrer implicando – ou não, já que alguns deles morreram antes de mim. Nesse episódio foram-se de uma tacada só a Reed (a primeira a morrer, com um tiro na testa) e o cara com nariz de batata que até hoje eu não aprendi o nome (e agora nem preciso). Pior que eu dei uma choradinha com a morte dele, viu. Afinal Doutora Bailey desesperada é de derrubar qualquer um. E a paciente que ajudou era a Mandy Moore, repararam? Será que tá com leucemia se tratando para o filme “Um Amor Para Recordar”?

Oh, McDreamy!

Alguém me explica como aquela April voltou pro Seattle Grace? Ela tinha sido demitida por um dos erros médicos mais bestas que a série já viu, e meio que fez o pobre Derek ser baleado com a sua intervenção desastrosa. Antes disso, Derek, ao se ver frente a frente com o atirador, estava conseguindo convencê-lo das tolices de suas ações. Mas enfim, também achei isso forçado demais da conta. Se o cara chegou lá destinado a matar, ia matar e pronto. Não ia perder tempo com conversinha furada, como aconteceu aqui – você sabe como é, aquelas besteiras da dramaturgia, onde um assassino tem que enrolar pra cometer o crime, só pra dar aos mocinhos a chance de escapar com vida. Outra ceninha tosca e clichê: Lexie frente à frente com o atirador. Ele deixa a menina se cagando toda. De repente, um tiro. Mas oh, não, o disparo não veio da arma do bandido, e sim de um dos oficiais da SWAT que lhe acertou no ombro. Ridículo também os policiais não terem aproveitado essa oportunidade pra render o doido de vez. Não, deixaram que ele rastejasse pra fora de lá e que fosse causar mais estrago. O momento mais risível, porém, foi quando Owen e Teddy saíram sãos e salvos do hospital – ela ficou na frente do policial que ia impedir o Owen de voltar lá dentro procurando a Cristina. Cala boca, o profissional treinado da SWAT foi driblado por uma cirurgiã varapau, destamanico! Não abusa da nossa boa vontade, Shonda…

Achei ainda que o roteiro foi meio covarde, colocando os personagens originais numa ampla margem de segurança e deixando os novos à própria sorte. Afinal, uma série evita se desfazer de seu primeiro elenco, que só costuma ser dispensado quando os próprios atores estão causando intrigas ou mais interessados em explorar suas carreiras (do time original de “Grey’s” já partiram Isaiah Washington, T.R. Knight e Katherine Heigl, e essa última nem deixou darem à personagem um desfecho apropriado). Estava óbvio que nem Alex e nem Derek iriam morrer – e quando acompanhávamos três situações paralelas, com os dois e o nariz de batata baleados em lugares diferentes e sendo socorridos de maneira precária, estava óbvio que alguém não sairia vivo dali, e não foi difícil adivinhar quem. O mais interessante do episódio, porém, foi como os personagens reagiram pessoalmente ao caos e à tensão, dando sinais de heroismo (Owen sendo baleado ao tentar agarrar a arma), maturidade (Cristina realizando sob extrema pressão a cirurgia mais difícil de sua carreira e salvando a vida de Derek), sacrifício (Meredith se oferecendo para morrer como bode expiatório do atirador) e compaixão (Bailey colocando o nariz de batata no colo e acompanhando seus últimos minutos de vida). Aliás, triste o moço ter morrido no mesmo dia em que a sua amada Reed, né? Aposto que eles vão se encontrar no elevador do além e serão felizes para sempre. Ou prefiro acreditar que irão. Mas olha eu ficando sentimental por personagens que nem conheço direito…

Mó-rreu

Ah tá, então a Meredith sofreu um aborto espontâneo. Quem pode culpá-la, depois de tudo o que ela passou? Mas não chorem, pessoas. Mer e Der farão outro McBaby. Este não está mais entre nós – abandonem as esperanças de encontrá-la gravidíssima e feliz na próxima temporada. Não. Estarão todos devastados e profundamente abalados. E espero que continuem assim por um bom tempo. A felicidade excessiva resulta na falta de conflitos – e quando falta conflito, tentam criar enredos bocós pra continuar prendendo o público. Acontece que não tenho paciência pra coisas bocós, e não quero ser forçado a me desapegar de “Grey’s Anatomy” outra vez. Então capriche, Shonda. Use o pessimismo que a senhora sabe empregar como ninguém nos finais de temporada. Porque por melhor que o episódio tenha sido, parece uma recompensa apenas justa para os que enfrentaram o perrengue contigo. Nos vemos em Setembro para tirar a prova! Até lá, vou botar em dia os outros episódios que perdi.

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Faca de dois gumes

Comentei no ano passado sobre “Improvável”, uma sucessão de esquetes improvisadas que tem feito enorme sucesso aqui em São Paulo. Em cartaz no TUCA, o teatro da PUC, o show tem um apelo compreensível e os ingressos esgotados com muita antecedência (comprei os meus há dois meses). O bacana é que, como é tudo inventado na hora pelos humoristas – os membros da Companhia Barbixas, mais os convidados especiais que variam a cada semana -, um espetáculo surge completamente diferente do outro. Por isso eles costumavam usar o subtítulo “Um Espetáculo Provavelmente Bom”, que sabe-se lá por que foi dispensado nessa nova temporada. O formato é basicamente o mesmo do programa americano “Whose Line Is It Anyway?”: o público escreve sugestões ou participa diretamente, para que temas aleatórios sejam disparados para os comediantes – e eles que se virem tentando extrair graça das situações. Às vezes dá muito certo. Quando vi da outra vez, por exemplo, peguei as ótimas performances de Bruno Motta e Marco Luque, que interagiram lindamente com os três membros fixos. Dessa vez, os convidados não demonstravam a mesma voltagem – e talvez os temas sorteados também não tenham dado as mesmas oportunidades. Percebi que “Improvável” é bem difícil de recomendar. Alguns vão pegar apresentações boas, outros nem tanto. Depois de ter visto uma apenas mediana, não consigo fazer elogios fartos.

.:. Improvável – Um Espetáculo Provavelmente Bom. Teatro TUCA. Cotação: C+

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Filmes que ficam

Uma tia fonoaudióloga me perguntou se eu já tinha assistido a “Meu Pé Esquerdo”, e à medida em que fui puxando detalhes do filme da memória, me dei conta do quanto tinha gostado dele, e do quanto tinha permanecido comigo. À pedido dela anotei algumas das minhas impressões, que compartilho agora com vocês:

“Meu Pé Esquerdo” é mais lembrado pelo excelente desempenho de Daniel Day-Lewis, pelo qual ele ganhou o primeiro Oscar de Melhor Ator (o segundo seria conquistado dois anos atrás, por “Sangue Negro”). Mas o longa dirigido por Jim Sheridan em 1989 tem qualidades mais extensivas. Para começar, o diretor aborda a história edificante que se propõe a narrar com sobriedade espantosa, sendo que poderia ter caído facilmente em apelações, considerando o material altamente emocional que tinha em mãos. Esse respeito pelo caso é sentido pelo espectador, que se importa com o protagonista não pela sua deficiência, mas pela pessoa que ele é além disso.

No filme, acompanhamos como Christy Brown superou as adversidades para se tornar um pintor e um escritor de sucesso. Ele era um dos muitos filhos de uma família operária irlandesa – gente simples e humilde, que bebe demais e tem expectativas de menos, e que não compreende porque suas trajetórias se desenrolam de maneira precária. Christy também não tinha ambições de se alçar deste ambiente paupérrimo. Na verdade, nem tinha condições de fazê-lo, porque tinha uma desvantagem considerável em relação a todos os outros: nasceu com paralisia cerebral, e nem mesmo os médicos lhe davam mais do que alguns meses de vida. Pois os anos foram se passando, e Christy persistiu. Até um estágio avançado da infância, só comunicava com a família através de grunhidos e batendo o pé esquerdo no chão – só desse pé ele tinha domínio, já que por ter os músculos contraídos não conseguira controlar qualquer outro movimento do corpo.

Mas era um bom observador, e foi com esse pé que certo dia escreveu, com um pedaço de giz no chão de madeira, a palavra “Mommy” (Mamãe), para o imenso assombro dos familiares (muitos deles inteiramente analfabetos). A cena em questão é uma das mais memoráveis do filme, muito favorecida pelas extraordinárias interpretações do ator mirim (que carrega o personagem pelo primeiro ato, antes de Day-Lewis assumí-lo) e de Brenda Fricker (que como a matriarca da família Brown comove e convence, tendo sido premiada com o Oscar de Atriz Coadjuvante). Foi a mãe quem estimulou as conquistas e avanços de Christy, tratando-lhe com a dignidade que os outros membros da família – que o viam mais como um animal de estimação – não lhe reservavam. Com o tempo, Christy aprendeu a falar, ainda que muito mal e só compreensível aos que conviviam sempre com ele. Até que um médico local ouviu sobre este rapaz e foi conhecer a família. Ele ensinou Christy a se articular melhor e ajudou a promovê-lo como o artista que ele já estava se tornando. Foram poucas, ou nenhuma, as melhoras físicas de Christy ao longo dos anos, mas ele se tornou capaz de se expressar habilmente pela fala e pelo pé esquerdo, da mesma forma em que se tornou um exemplo de vida, primeiro para sua comunidade, e depois para todo o país (ou ainda para o mundo, através do filme).

“Meu Pé Esquerdo” acompanha Christy até seu casamento, com uma das enfermeiras que o auxiliava. A essa altura, ele já tinha construído uma vida melhor para si e para os familiares (é bem bacana também a cumplicidade que existe entre ele e os irmãos, que nas cenas iniciais são vistos empurrando o garoto por toda parte numa carriola, para inclui-lo nas brincadeiras). O filme termina com informações sobre a morte de Christy – faleceu em 1981, aos 49 anos, em Dublin, vítima de um acidente aparentemente inofensivo (sufocou com a comida na hora da refeição). Deixou, além das pinturas, sete livros publicados, alguns deles com poesias originais. Sua auto-biografia serviu de base para o filme em questão – e todos os envolvidos no projeto se esforçaram ao máximo para fazer jus a esse verdadeiro milagre que testemunhou a família Brown.

.:. Meu Pé Esquerdo (My Left Foot, 1989, dirigido por Jim Sheridan). Cotação: B+

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