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Enfim, Sherlock Holmes!

Começamos 2010 com o pé direito: uma das primeiras estreias do ano no Brasil, a aventura “Sherlock Holmes”, é bem melhor do que a encomenda. O espectador experiente está acostumado a duvidar do diretor Guy Ritchie, que emplacou o cultuado “Snatch – Porcos e Diamantes” antes de levar a carreira para o fundo do poço ao se casar com Madonna. Ele pagou um mico colossal ao dirigir a (hoje ex) esposa na comédia romântica “Destino Insólito”, e está custando a recobrar o prestígio. Os projetos posteriores à bomba não eram necessariamente ruins (até porque nada fica pior que aquilo), mas é fato que Ritchie saiu da experiência com a reputação abalada e uma mancha no currículo impossível de apagar. Agora, depois de um divórcio conturbado com a estrela do pop, pode ser que ele tenha tomado tento e recuperado o “mojo”.

Não sabia bem o que esperar do filme, mas o resultado é pra lá de satisfatório. Não li muitos contos do Sherlock Holmes – prefiro o detetive belga Hercule Poirot, criado pela primeira-dama do suspense Agatha Christie. Mas imagino que a essência do personagem de Arthur Conan Doyle tenha sido mantida: o Sherlock desta versão, interpretado com a competência costumeira por Robert Downey Jr., é cínico, cara de pau e cheio de tiradas sarcásticas. Praticamente um gêmeo do Dr. House, do seriado de TV – ou o que o House seria se fosse investigador particular e vivesse na Inglaterra do século XIX. Um sujeito brilhante, perceptivo, cheio de ideias nada convencionais, e acostumado a solucionar seus casos ignorando qualquer protocolo policial. Alguém que escancara sua superioridade, mesmo que com isso machuque as pessoas ao redor. O único que parece suportá-lo é o fiel escudeiro, o “caro Watson”, aqui vivido por Jude Law – ele serve como um filtro para as teorias mirabolantes do amigo, exatamente da mesma forma que o Wilson faz em “House” (tanto que David Shore, o criador da série, assume ter se inspirado nesses personagens para elaborar a sua dupla).

Há ainda um interesse romântico de destaque – uma mocinha meio chave de cadeia (Rachel McAdams), que se entende com Sherlock por serem, os dois, farinha do mesmo saco. A investigação que movimenta a trama envolve um certo feiticeiro (Mark Strong), que dizem ter ressuscitado depois de ter sido condenado à morte por assassinato em massa. Sherlock, um homem racional acima de tudo, acredita que nesse mato tem coelho, e tenta desvendar a armação antes que novas vítimas (incluindo ele próprio) sejam feitas. O roteiro é particularmente engenhoso, bem estruturado, com reviravoltas eficientes. Mas tudo teria ido por água abaixo se Ritchie não soubesse se resguardar – se faltasse tato por parte do diretor, um plano mais demorado ou um close desnecessário poderiam evidenciar excessivamente elementos do mistério e, quem sabe, arruiná-lo para o espectador. Até porque a graça está em manter as surpresas, por mais que alguns se esforcem para desvendá-las por conta própria. Mas não se preocupe porque nada é óbvio e mastigadinho; as informações são racionadas e explicadas na hora certa. As sequências de ação também são anormalmente bem filmadas – Ritchie movimenta a câmera corretamente, sem exageros e tremidas que impeçam o público de enxergar o que está acontecendo.

Mas o que faz cair o queixo é o visual e a sonoplastia. A direção de arte de Sarah Greenwood – que deve concorrer ao Oscar e possivelmente ganhar – é no mínimo espetacular, ainda que possamos notar o auxílio de efeitos na recriação da Londres de cento e tantos anos atrás (a Tower Bridge em construção, usada com importância pelo roteiro, é impressionante). No mais, os figurinos de Jenny Beavan são divinos, e a trilha de Hans Zimmer, imprescindível para conferir ao filme sua identidade (sem ditar demais o tom das cenas, também). Da combinação disso tudo, surge uma fita divertida, charmosa e de qualidade, ainda que não especialmente memorável. Como um entretenimento de mais de duas horas, é balanceado, esperto e nada cansativo. Concorre na noite de hoje ao Globo de Ouro (Melhor Ator em Comédia para Downey Jr). Não perca – nem o filme, nem a cerimônia de premiação!

.:. Sherlock Holmes (Idem, 2009, dirigido por Guy Ritchie). Cotação: B+

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P.S.: Quer acompanhar a cerimônia de entrega dos Globos de Ouro junto do Louis e de outros cinéfilos? Então é só entrar, a partir das 22h deste dia 17, no chat especial do CineDica. Estarei por lá esperando vocês, para trocar comentários ao vivo sobre apostas, indicados, vencedores e convidados que só foram para se aparecer!

Categorias:Cinema
  1. henriquezrx
    17 janeiro 2010 às 12:39 am

    Esse será o primeiro filme do ano, meio atrasado hein! Mas tudo bem. Espero que valha a pena.

  2. Jecik
    17 janeiro 2010 às 12:55 am

    To louca pra ver. Mas não veio pra Maceió. =/
    Assim que estreiar, vou correndo ver. Adoro o Robert e desde q vi o trailler, num guento de espectativa por um filme bom. ^^
    =*

    • 17 janeiro 2010 às 1:08 am

      Henrique, em começo de ano não tem problema o fluxo de filmes ser baixo. Em época de férias, o que não falta é programa pra fazer! 🙂 Mas imagino que você vá gostar…

      Jecik, sério que não estreou aí? Achei que o lançamento seria em todo território nacional… Que seja, confira assim que puder! o/

  3. Jecik
    17 janeiro 2010 às 1:17 am

    O canto mais perto é Recife, pra variar. Então vou esperar pra ver no cinema, quando resolver aparecer. (Maceiófimdemundo!!!)

  4. 17 janeiro 2010 às 2:34 am

    vou ver na última quinta do mês (deus abençoe o Claro Clube. infelizmente é Cinemark, o lugar onde só tem público sem educação… mas né…).

    • 17 janeiro 2010 às 8:29 pm

      Jecik, que pena! O jeito é esperar… 😦

      Quéroul, muita gente fala mal do Cinemark mas até agora não tive nenhuma experiência desagradável lá… Se bem que esses filmes que tb tem um apelo juvenil são um perigo – tem muito jovem mal educado!!!

  5. 17 janeiro 2010 às 8:37 pm

    Particularmente acho puro entretenimento, e ainda não dos melhores!

  6. 18 janeiro 2010 às 3:51 am

    Sandra Bulloxk \o/

  7. 18 janeiro 2010 às 3:52 am

    cruzes. escrevi errado!
    muita emoção.

    • 18 janeiro 2010 às 5:02 am

      Cleber, concordo que é puro entretenimento, mas coloco entre os melhores da safra atual!

      Quéroul, viu só?? Vibrou bastante? 🙂

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