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Inimigos Públicos

A história de John Dillinger, o assaltante de bancos declarado o inímigo público número 1 dos Estados Unidos na década de 30, já foi contada antes pelo cinema e pela TV (em telefilmes e seriados). Só que nunca antes fora narrada por Michael Mann, um cara que todo mundo respeita por filmes como “O Informante”, “Colateral” e em certos círculos, “Miami Vice”. Ele é aquele cineasta que você fica esperando que um dia arrebate de vez e acabe levando o Oscar – e teve sua chance com essa fita de gângster “Inimigos Públicos”, a cinebiografia definitiva de Dillinger com Johnny Depp no papel principal. Infelizmente para Mann, não é dessa vez que a Academia irá reconhecê-lo. O trabalho dele aqui é irregular, com erros e acertos para balancear – e se adianto que o saldo final é positivo, também afirmo que os méritos não são exclusivos do diretor.

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Mais uma vez, Mann opta por rodar tudo em alta definição, o que ornou com seus filmes anteriores mas que não combina com um filme de época. A câmera de mão é excessiva, inadequada, um capricho estético que nada faz pela narrativa. Outra desvantagem é que o HD não precisa de tanta luz quanto uma película, o que provoca cenas escuras que impedem os interessados de prestar atenção nos detalhes, nos prédios antigos e por vezes nos próprios atores (alguns membros do elenco só são reconhecíveis nos créditos finais). O que é uma pena, já que tudo foi rodado em locações autênticas, nada em estúdio – inclusive o cinema onde Dillinger assistiu a um filme de Clark Gable antes de ser assassinado é o mesmo aonde tudo aconteceu. (E antes de você me xingar por ter contado o final do filme, saiba que isso não é spoiler, e sim um fato amplamente divulgado e conhecido por qualquer fulano que não viva dentro de uma bolha. Aliás, essa cena no cinema tem outro propósito ainda: durante a projeção, Dillinger parece fascinado pela atriz Myrna Loy – com quem a doce Marion Cotillard, escalada como par romântico, é muito parecida.) Para encerrar a difamação, a fotografia poderia ter sido mais generosa com Johnny Depp, que aparece mais envelhecido que nunca e atuando no piloto automático.

Em defesa, há um par de sequências de tiroteio muito bem coreografadas e um lindíssimo assassinato que confirmam a qualidade de “Inimigos Públicos” enquanto thriller – sim, pois seu escopo dramático é sabotado pelo roteiro, escrito a seis mãos por Ann Biderman, Ronan Bennet e o próprio Mann. Ele nunca responde a perguntas básicas e essenciais, como de onde veio John Dillinger e o que motiva seus atos criminosos (brevemente o “personagem” menciona que a mãe morreu quando era criança e que o pai o espancava, mas não passa disso). O interessante é que não deixam passar em branco o fato de que, na cultura americana, o homicídio e a celebridade sempre andaram juntos – Dillinger se torna famoso a ponto do cidadão comum vê-lo mais como um herói e menos como uma ameaça (e a cena em que sua foto é divulgada num cinema onde ele se encontra resulta numa tentativa eficiente de humor). A trilha sonora também é especialmente charmosa, recheada de clássicos do período, em que se destaca o tema de Marion “Bye Bye Blackbird”. Falando na diaba, é com alegria que informo que do alardeado trio de protagonistas (Depp, Cotillard e Christian Bale), a francesa é, de longe, a mais notável – mas em papéis coadjuvantes também estão nomes e rostos conhecidos como Giovanni Ribisi, Billy Crudup, Channing Tatum e Carey Mulligan.

Resumo da ópera: “Inimigos Públicos” é um filme bastante bom. Mas apenas isso. Bastante; sem nada a mais. Não entrará para o hall sagrado dos filmes do gênero, mas tem qualidade o suficiente para ser uma das melhores estreias recentes. Então vá lá: veja.

.:. Inimigos Públicos (Public Enemies, 2009, dirigido por Michael Mann). Cotação: B+

Categorias:Cinema
  1. Gustavo Naspolini
    27 julho 2009 às 2:53 pm

    Dscrevesse com eficiencia as falhas que eu mais notei no filme, como o frouxo roteiro, o excesso de camera na mao, a escuridão e o fato de o filme não se tornar uma referencia no genero.

    É sim um filme bom, mas não satisfaz o que se esperava dele, e frustra ao imaginarmos que poderia ser uma obra prima.

    E concordo que Mario foi a melhor do elenco, em todos os aspectos, e a única que trouxe o charme e elegancia que eu esperava para este filme.

    Parabens, ótimo texto.
    Abraço.

  2. Gustavo Naspolini
    27 julho 2009 às 2:54 pm

    *Descrevesse

    *Marion.

  3. 27 julho 2009 às 2:57 pm

    Estou só esperando chegar no cinema aqui. Acredito que em breve vou poder ver. Tem tudo para ser foda. Já sabia que tinha essa cena do cinema, só não sabia que era uma parte assim tão importante para o filme.

    • 27 julho 2009 às 10:08 pm

      Gustavo, valeu! 😉 Concordamos em praticamente tudo sobre esse filme! E olha que fui com as minhas expectativas moderadas, depois da recepção morna da crítica americana. Não acho que Inimigos Públicos vá sobreviver ao tempo – não é especial nem para entrar no top 10 do ano, que dirá para entrar para a história dos filmes do gênero. Pena…
      Abraço!

      Ibertson, a cena não chega a ser o clímax absoluto do filme (há tiroteios mais empolgantes no desenrolar da história), mas a forma com que Mann filma a morte de Dillinger é louvável, de aplaudir de pé e quase perdoá-lo pelos outros erros. Veja quando puder!

  4. 28 julho 2009 às 2:08 am

    Vou assistir a este filme amanhã. Portanto, depois, com calma, leio e comento teu post. Só posso dizer que minhas expectativas para esta obra são boas.

    Beijos!

  5. Gustavo Naspolini
    28 julho 2009 às 3:29 am

    Eu também achei o final do filme fantástico, quase reparou os 100 minutos anteriores.

    • 28 julho 2009 às 10:17 am

      Ka, te espero aqui! 🙂 Beijão!

      Gustavo, teve coisas que eu gostei nesses outros 100 minutos, mas também teve vários defeitozinhos que não credenciam o filme como a obra-prima que estão pintando.

  6. Gustavo Naspolini
    29 julho 2009 às 7:12 am

    Louis, creio que a tal obra prima foi pintada antes do filme ser lançado. É o típico caso que promete banquete e entrega um cachorro-quente.

    • 29 julho 2009 às 10:38 am

      HAHAHA! Ótima analogia, Gustavo. Mas vi, em comunidades do Orkut mesmo, gente se desmanchando em elogios ao filme depois de conferi-lo. Não é pra tanto, é claro.

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