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Crepúsculo: Livro e Filme

Há algumas semanas, enquanto perambulava pela Av. Paulista durante o intervalo entre uma sessão de cinema e outra, entrei na Livraria Cultura, peguei uma cópia da sensação “Crepúsculo”, me estendi lindamente num pufe e li umas quarenta páginas, tentando encontrar um mísero motivo que justificasse o sucesso literário. Cheguei mais uma vez à conclusão de que vendagem não é sinônimo de qualidade, e confirmei a impressão de que essa Stephenie Meyer, seja lá quem for, escreve muito, mas muito mal mesmo.

O livro, narrado em primeira pessoa por uma adolescente bem chatinha, é um troço inexplicável. A menina é intragável e só faz reclamar – fica nessas quarenta páginas dizendo coisas do tipo “ai, eu não me dou com o meu pai”, “ai, que camionete horrível ele deve ter comprado pra mim”, “ai, que cidadezinha ridícula”, “ai, meu primeiro dia de aula vai ser uma merda”, “ai, como esse povo da minha escola me olha esquisito” e daí em diante. Não cheguei na parte em que a garota, Bella, conhece um vampiro emo e cai de quatro por ele, mas vi o filme honônimo no começo do ano e sei o que me espera. Também sei que se esse fosse o melhor romance teen dos meus tempos de moleque eu iria me emancipar.

twilight

O status quo do teen movie atual é sinistro. O grosso dos fãs de “Crepúsculo” é a mesma galerinha que decora as músicas de “High School Musical” e que canta junto da TV em cenas como aquela em que as castas sociais do colégio aceitam alegremente a forma com que os mais populares as percebem. Aliás, já que o high school se firmou como palco para as mesmas receitas requentadas (e não requintadas), é justo que “Crepúsculo – The Movie” tenha sua cota de cenas nesse ambiente (este é o absurdo número 1: a cidadezinha é escondida no meio das coníferas e tem um par de milhares de habitantes, mas a escola é mega povoada e agrupa todos as etnias do planeta).

E se você vier dizendo que não dá para esperar lógica de uma fantasia, vá ver o filme antes para saber do que eu estou falando. Você não sabe como dói uma mordida no pau até a sua prostituta resolver espirrar durante o emprego. E mediocridade não é mais opção, agora que Alan Ball está redefinindo o gênero vampiresco com “True Blood”, a série da HBO que, com um texto singular e anárquico, transforma o bizarro em banal, tudo dentro de limites aceitáveis como críveis. Os absurdos seguintes envolvem o insosso casal central (o vampiro Edward diz que os dois precisam se afastar para a segurança de Bella, mas é sempre ele quem vai procurá-la) e o vilão que só é introduzido no terço final e que inicia uma caçada à mocinha sem motivo aparente.

Difícil é entender como Catherine Hardwicke, que fez um debut tão promissor com “Aos Treze” (onde arrancou desempenhos formidáveis de seu elenco juvenil), acabou se envolvendo com um negócio tão ruim – e deixou passar atuações dolorosamente sofríveis. Robert Pattinson (Edward) é uma desgraça e Kristen Stewart (Bella) não é Evan Rachel Wood. Eles não conseguem recitar uma frase sem cair na canastrice, coitados. E meu amigo, como o roteiro é ruim! Eu poderia jurar que foi escrito num teclado com coraçõezinhos nos pingos dos “I”s. Não tem nem vergonha de assumir a postura machista, quando a menina se dispõe a ser mordida e a abrir mão de tudo para acompanhar seu homem por toda eternidade (mas antes isso do que ser uma caixa de bombons como “Sex and the City”, que de feminista e moderno só tem a pose e cuja moral é a mesma dos discursos mais retrógrados: nenhuma mulher é plena sem um homem ao lado).

O teaser da sequência “Lua Nova” foi exibido antes de “Harry Potter” e levou as garotas da sala onde eu estava ao delírio (mais ou menos como as gordinhas que surtaram assistindo-o, vídeo que você já viu aqui no blog). Está na cara que vai ser mais do mesmo: o romance água-com-açúcar, a falta de conflitos dramáticos e os efeitos amadores (em “Crepúsculo” envolveram uma sequência de beisebol e em “Lua Nova” deve haver a transformação de certo personagem em lobo – mas como bem disse uma amiga minha, ele mais parece se transformar em totó). Por isso mesmo, deve fazer a alegria das adolescentes e ir bem de bilheteria. E por isso mesmo, essa bella bosta não vai ter o dinheiro do meu ingresso.

.:. Crepúsculo (Twilight, 2008, dirigido por Catherine Hardwicke). Cotação: D+

Categorias:Cinema, Literatura
  1. Caio
    22 julho 2009 às 11:31 pm

    De acordo com cada ponto e vírgula.

  2. 23 julho 2009 às 12:23 am

    Ao contrário de você, eu adorei tanto o livro quanto o filme e acho que isso aconteceu porque fiquei totalmente encantada com os personagens e a relação desenvolvida pelo Edward e pela Bella. Acho que esta é a chave para o sucesso do livro e filme.

    Beijo!

  3. Adriano
    23 julho 2009 às 5:18 am

    Concordo com tudo o que tu escreveu, Louis.
    A Stephanie Mayer é um escritora com recursos ZERO, beirando a mediocridade.
    “…o vilão que só é introduzido no terço final e que inicia uma caçada à mocinha sem motivo aparente.”
    Essa parte foi a que mais me incomodou – mas não foi a única- em todo o livro (apesar de eu ter achado que o filme até tenta consertar esse erro crasso).

    • 23 julho 2009 às 8:40 pm

      Caio, de acordo, então! 😉

      Ka, sei que você gostou tanto do filme que até foi atrás dos livros depois disso – tentei dar uma chance pegando o livro para folhear e não teve jeito. Acho a trama pobre e o casal muito chato. E Pattinson e Stewart não são de grande ajuda. Beijão!

      Adriano, obrigado por esclarecer; não sabia se esse erro era do filme ou se no livro acontece o mesmo com o vilão!

  4. Régis
    24 julho 2009 às 11:46 pm

    Aehhhh… que bom saber que não sou o único detrator de “Twilight”… pois até criticos como a Isabela Boscov (que eu admiro muito) elogiaram ao menos um pouquinho este filme. Eu detestei do início ao fim. A atuação do Pattinson é de longe, uma das mais desastrosas e canastronas de toda a história do cinema. O roteiro é a coisa mais implausível e mal escrita do ano. Alguém me explica o porque, porque meu Deus, todo ano ele iam religiosamente a escola, em vez de ficar em casa? A meu ver “Twilight” apenas prestou um desserviço na carreira dos 3 principais envolvidos. Da Catherine Hardwicke, que perdeu muita credibilidade. Do Pattinson que se converteu em apenas mais um galã, que provavelmente vai significar pra critica aquilo que Ben Affleck significa. E a que mais me desamina, banalizou a carreira até então interessante da Stewart. Uma atriz que eu vinha gostando cada vez mais e mais.

    • 27 julho 2009 às 12:11 am

      Régis, coloco um grande [2] embaixo de tudo o que você falou!!!

  5. lelacastello
    11 setembro 2009 às 5:05 am

    Vamos combinar de se encontrar logo menos, preciso te aplaudir de pé por essa resenha. Só pelo que você falou de Sex and the City já merece, mas o negocio da prostituta, uau ! hahaha

    • 11 setembro 2009 às 2:54 pm

      HUAHUAHUA Valeu!!! E valeu pela divulgação do post e do blog no Twitter, minha leitora cativa! 🙂

  6. matheus
    13 setembro 2009 às 2:39 am

    mando para meu msn

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