O sensacional final de temporada de Grey’s Anatomy

* Com SPOILERS para quem não acompanha junto dos Estados Unidos *

Fui impiedoso com a quinta temporada de “Grey’s Anatomy”: fraca, fraca e fraca. Já não conseguia me empolgar com a mesma historinha furada; era sempre assim: “pacientes falam uma frase que tem tudo a ver com o momento que os médicos estão passando e eles ficam refletindo sobre isso”. Essa fórmula, outrora empregada pela criadora do programa Shonda Rhimes com sutileza, sensibilidade e cuidado, acabou ficando gasta, exagerada, forçada, over. Me incomodava o rumo que certos personagens tomavam – a trama da Izzie, vendo o fantasma do noivo morto e depois descobrindo que essa alucinação era fruto de um tumor no cérebro, tipo “Eli Stone”, foi constrangedora. Me irritava o excesso de diálogos movidos a metáforas e a porção de novos personagens que apareciam, mesmo quando os personagens “originais” já apresentavam problemas em sua composição – contem comigo: teve aquela amiga sem noção da Meredith, Sadie; teve a Dra. Dixon, a médica autista também conhecida como a presidente Roslin de “Battlestar Galactica”; teve a pediatra surgindo para ser o novo caso lésbico da Callie depois que a primeira tentativa para par romântico, Dra. Hahn, foi dispensada sem cerimônia; e teve também a participação vergonhosa de Faye Dunaway, a vencedora do Oscar por “Rede de Intrigas”, fazendo a Dra. “Dinossauro”, que gritava com a Cristina como uma vilã de fita de terror: “Leave! This is MY O.R.!”. Pa-té-ti-co.

Dito isso, devo admitir que curti bastante os três últimos episódios da temporada, que remeteram aos primeiros anos da série. Bem equilibrados, tanto engraçados quanto tristonhos, tanto leves quanto tensos. Com cada personagem tendo seu espacinho para fazer o que fazem melhor. Com o elenco voltando a interagir bastante e arrasando como há tempos não faziam (ou não tinham chance de fazer). Obrigado, Shonda, por voltar à boa forma – e desculpa qualquer coisa.

A sexta temporada já tem um empecilho claro: Ellen Pompeo, a Grey do título, está grávida e vai ter que se ausentar por alguns episódios. Como contornar este porvir? Incorporar a gravidez à trama? Avançar alguns meses no tempo para explicar o aparecimento da personagem mais rechonchuda? Ou ignorar o bebê que cresce no ventre da atriz e disfarçar os quilos a mais com roupas mais largas e objetos cenográficos? E mandar a Meredith para uma viagem para as Bahamas, com tudo pago, enquanto a Pompeo estiver dando à luz? Bom, isso é problema de Shonda Rhimes e sua equipe. E também é de responsabilidade deles os personagens amados, idolatrados, salve-salve, que estão com seus destinos em aberto. Não me preocupo muito com Meredith e Derek, que se acertaram com o casamento improvisado no bloquinho de papel (quem esperava os dois no altar da Igreja, sinto muito, mas não aconteceu – e nem vai); também não me preocupo com Cristina e o Soldado que roubou seu coração – depois de uma temporada de enrolação, eles se acertaram e parecem numa boa; Callie e Arizona, apesar das diferenças de opinião, também vão se entendendo aos poucos; e Bailey é forte e, mesmo se separando do marido, pode ser que acabe se esforçando e optando pela Pediatria (parênteses para fazer um elogio à Chandra Wilson, que deu um show neste episódio final).

O que realmente me preocupa, e o que todo mundo quer saber, é o que acontecerá com George e Izzie (& Alex). De um lado, O’Malley, a caminho do Exército para ir servir na Guerra do Iraque, se joga na frente de um ônibus para impedir uma moça de ser atropelada; chega no hospital com o rosto deformado e em estado crítico, para só no finalzinho ser reconhecido pela Meredith. Do outro, Izzie topa enfrentar a arriscada cirurgia de remoção do tumor – tudo corre razoavelmente bem e quando a memória dela está se reintegrando, tcha-nan, vem uma parada cardíaca, deixando o novo maridão, Alex, aos prantos. Enquanto o George “real” é levado às pressas para uma nova cirurgia, o pessoal tenta, sem sucesso, reanimar Izzie (o Chief concorda em ignorar a cláusula de “não-ressuscitar” que ela tinha assinado em caso de emergência). Numa realidade alternativa, o mesmo lugar onde a Meredith foi bater um papinho com Denny enquanto estava entre a vida e a morte na terceira temporada, Izzie, com o mesmo vestido de baile que usava na noite que o noivo morreu, sobe pelo elevador para encontrar não Denny, mas George, com a farda do Exército e a cabeça raspada. Ao fundo, a canção “Off I Go”, de Greg Laswell. (Há tempos não ficava tão tocado por uma música que a série apresenta; baixei e não paro de ouvir.)

Shonda Rhimes foi esperta deixando esse gancho que se aproveita dos rumores (confirmados, negados, confirmados de novo etc) de que Katherine Heigl, a Izzie, estaria insatisfeita com a série e doida para se dedicar exclusivamente ao cinema, e de que T.R. Knight, o George, também não está muito animado a continuar e que já teria quebrado o contrato com a ABC. Mas Shonda se defende, alegando que planejava essa última cena desde o início da temporada, antes desses boatos ganharem forma. E ela parece estar falando a verdade: reparem na simetria deste final com o final do primeiro episódio do quinto ano. Os dois se encerraram com Izzie, no vestido de baile, subindo pelo elevador – no começo, encontrava Denny esperando por ela; agora, encontra George. É o mesmo paralelo da terceira temporada, por exemplo, quando Meredith ajudou Izzie a levantar do chão do banheiro e a tirar o vestido no primeiro capítulo, e ajudou Cristina a tirar o vestido de noiva, no último. Ignorando as revistas de fofoca (Heigl já teria garantido que está feliz em continuar com a série e T.R. nunca se pronunciou sobre o que atestaram por ele) e focando no que a cena em questão pode significar, algumas interpretações são prováveis:

1) George morre, Izzie sobrevive. Por ele estar fora do elevador, esperando por ela como Denny estava antes, podemos entender que o personagem já partiu e que não tem volta. Ela, no entanto, continua no elevador e está indecisa entre continuar com o amigo ou retornar para os colegas que tentam trazê-la de volta (e para um Alex aflito). Reparem em como a expressão dos dois muda quando se encaram. Ela está constatando que precisa fazer uma escolha.

2) George sobrevive, Izzie morre. Segundo alguns, o elevador é uma metáfora para a partida. Izzie é quem tem a parada cardíaca – o monitor que nós vemos é sempre o dela. George continua vivo. Ao vê-la no elevador, ele percebe que Izzie morreu, e ela constata o mesmo sobre ele. Mas ele ainda pode voltar.

3) Os dois sobrevivem. Passam um tempinho no além, mas voltam. Izzie recobra os sentidos, e George é salvo pela bateria de cirurgias. Sloan conserta o rosto do George (não é impossível, ele fez coisa parecida com a Ava/Rebecca na temporada três) e o personagem já engata uma nova trama, com a recuperação e a mulher que salvou da morte, muito grata e tratando-o por “príncipe” (e a atriz em questão não é uma qualquer, veio de “The O.C.” e já podiam estar pensando em um papel fixo para ela no próximo ano).

4) Os dois morrem. Se for para levar o paralelo com o primeiro episódio adiante, lembremos da narração inicial da Meredith, que separa os contos de fada da realidade, que nem sempre tem um final feliz. E a moça reforçava que o George era o príncipe dela…

5) Os dois sobrevivem, mas T.R. Knight sai da série e quando Sloan reconstruir o rosto dele, entra no lugar outro ator. Novela mexicana demais, né? Pois acreditem, tem quem aposte cegamente nessa teoria.

Estou mais propenso a apostar na alternativa “3”. Até porque esses ganchos de final de temporada frequentemente se voltam para a possibilidade de morte de algum personagem. Exemplos não faltam: “Desperate Housewives” encerrou o terceiro ano insinuando que Edie havia se suicidado; em “Six Feet Under”, ao final da segunda temporada, Nate enfrenta uma cirurgia com riscos de vida; “Nip/Tuck” terminou o segundo ano com um deles sendo atacado por um serial killer, e o quinto com o outro sendo esfaqueado pela agente; “Lost” matou o Jin no final da quarta temporada e o trouxe de volta no ano seguinte, e fez o mesmo com uma porção de personagens; “Buffy”, no final da quinta temporada, mostrou a protagonista morta e sepultada! Desses casos que me recordo, nenhum levou a morte em questão adiante. Shonda, ao garantir a vida de George e Izzie, optaria pelo óbvio, pela opção mais segura e agradável para os fãs. Até o recomeço da série em setembro, ou até vazarem os primeiros spoilers, não poderemos ter certeza. Mas ainda acho cedo para os fãs de “Grey’s Anatomy” entrarem em luto!

Atualizado 22 de Agosto: Vislumbres da sexta temporada de Grey’s Anatomy

Atualizado 12 de Setembro: Novas hipóteses para o gancho de Grey’s Anatomy

Atualizado 24 de Setembro: Retrospectiva Grey’s Anatomy

Atualizado 25 de Setembro: Crítica ao primeiro episódio da sexta temporada